01 fevereiro 2011

Tiradentes - Dia 1 Parte Dois

Ainda no meu primeiro dia participando da 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes, saí da primeira sessão de curtas, jantei comida mineira e em seguida fui à praça central da cidade para assistir à Série 1 da Mostra Curtas na Praça. A sessão foi boa, filmes leves, mas com uma boa dose de consistência em suas narrativas e num diálogo muito bom com o público, que se divertiu e reagiu em praticamente todos os curtas.

Costumo ficar na dúvida se curto ou não sessões ao ar livre, pois sou muito fã de sala fechada, escura, som vindo de todos os lados e aquela imersão completa no filme. Mas considero toda iniciativa de exibição de filmes sempre válida e essa sessão de Tiradentes foi bem interessante para observar a interação do público. As reações foram as mais diversas possíveis, mas uma me chamou a atenção.

Ao meu lado havia uma senhora que estava com dois netos, um menino e uma menina. O primeiro praticamente não viu nenhum filme, ficava correndo pra lá e pra cá, a menina ficou quietinha vendo atentamente todos os curtas. Durante o filme “Traz Outro Amigo Também”, sobre um detetive que vai descobrir o paradeiro de um amigo imaginário da infância de um velhinho, a senhora passou a projeção inteira tentando acertar qual seria a cena seguinte, o curioso é que em algumas ela acertou. Isso me incomodou de início, mas depois percebi o quanto aquele filme estava sendo um exercício de imaginação pra ela, assim como o detetive do filme, que precisou de muita imaginação pra resolver o seu caso. No final da sessão, enquanto rolavam os créditos do último filme, a senhora se levantou e puxou a neta, que resistiu um pouco, pois seus olhos ainda estavam colados na tela. Boquiaberta, a menina parecia não querer sair do universo daquela sessão.

De lá corri diretamente para o Cine Tenda para outra sessão de curtas, a Série 1 da Mostra Foco. E aqui retomo a questão sobre observar, principalmente em relação ao primeiro e ao último filme da série. A sessão começou com o documentário “Retrato de Suzana”, dirigido por Leonardo Amaral e Lygia Santos. É um curta que acompanha um dia de trabalho da cabeleireira Suzana, a câmera inicia na saída de sua casa para o salão de beleza e lá ficamos até o anoitecer quando Suzana e suas amigas têm aula de pintura. Durante todo o filme, a minha questão principal era buscar apreender se aquela proposta de observação dos diretores me transmitia algo ou não.

A câmera flerta com certo voyeurismo, mas acredito não ser essa a intenção, percebi mais um sentido em nos fazer absorver o ambiente de trabalho de uma pessoa comum e interagirmos com a simplicidade apresentada. Porém não consegui um envolvimento pleno, as imagens pareciam um registro pela registro, senti falta de uma melhor elaboração dos enquadramentos. Por outro lado reconheço que os diretores arriscaram positivamente, a edição flui bem e há um esforço significativo para nos inserir no salão de Suzana e compartilhar algo.

Quanto ao último curta da sessão, “O Sarcófago”, de Daniel Lisboa, a sensação foi inteiramente contrária. Já assisti a esse filme algumas vezes e fiz questão de revê-lo, pois sinto que a proposta do diretor em documentar o personagem Jayme Figura, um artista que anda pelas ruas de Salvador com indumentárias nada convencionais e recicladas a partir de todo o tipo de material, vai além de uma observação simples e direta. A impressão que me passa a todo instante é o lançamento de um jogo, no qual o espectador precisa experimentar cada cena para avançar na narrativa. É um curta que te convida a vivenciá-lo, sejam quais forem as conseqüências para cada um.

Talvez seja esse o peso do ato de observar, podemos sim ir além, e isso através de uma experimentação da observação, vivenciá-la a partir de nossas bases de conceitos e pensamentos, e assim percebermos algumas inquietações ou não dos elementos observados. Esse primeiro dia me jogou nas entranhas da necessidade de interação com as próprias vivências, acredito que possamos crescer com isso.

2 comentários:

Unknown disse...

Pensei que eu fosse uma companhia mais importante nesse seu primeiro dia...rs

William Hinestrosa disse...

salve salve Gabrielle, és sempre uma importante companhia, não importa o dia... rs