24 abril 2010

Cardápio abraçado

Os óculos poussuíam uma leve armação, e atrás deles se encontravam os olhos pequeninos e atentos de uma jovem franzina mulher abraçada com um cardápio.

Em frente ao restaurante onde trabalha, numa movimentada praça de alimentação, ela abordava os mais variados clientes, sempre com um discreto sorriso. Mas entre um cliente e outro ela parecia entrar num mundo próprio, seu olhar se perdia na multidão daquele lugar e em raras ocasiões seus lábios faziam um movimento como se desejasse narrar alguma coisa.

Mas qual mundo lhe pertencia?

Uma pequena trilha. O sol escaldante desce pelas copas das árvores. Um barulho de mar ao longe. Os ombros suados brilham e um suave perfume está na pele. Ela olha para os pés, um chinelinho barato e desgastado, mas incrivelmente confortável. O caminho parecia longo, mas agora falta pouco.

Um banho de mar. Águas calmas e vento no rosto. Sol forte, pele segura por um bronzeador na promoção. Ela olha para a praia e sua miopia desfoca um paraíso, ela sorri pois imagina que toda sua vida está atrás daquelas areias embaçadas.

As costas na areia. Ela fecha os olhos para adormecer, talvez sinta o desejo de um beijo, mas ela quer sonhar.