02 fevereiro 2011

Fui a Somewhere e curti

Não sou um profundo admirador do trabalho de Sofia Coppola, reconheço que ela tem talento, sabe fazer as coisas, mas seus três primeiros filmes pouco me acrescentaram alguma coisa. Fiz questão de assistir ao “Somewhere” (Um Lugar Qualquer), quarto longo da diretora, que estreou recentemente em São Paulo, e saí bem satisfeito com o que vi.

Sem ter lido uma letra sequer sobre o filme, os 15 minutos iniciais me conquistaram fortemente, informações esparsas, mas precisas, do personagem principal, construíram ebulições enigmáticas. Não busquei compreender nada, apenas experimentar. Quando o primeiro diálogo surge e descubro a profissão do personagem, as coisas parecem fazer sentido, mas ainda estão nebulosas. E talvez esse seja o real sentimento do personagem perante a sua própria realidade. Daí em diante Sofia Coppola me cativou de vez e mergulhei sem medo no filme.

Curti bastante a interpretação de Stephen Dorf, seguro nas sutilezas de um personagem complexo. Complexidade medida através da indiferença manifestada por ele com as coisas que acontecem a sua volta. Por outro lado, ele não é apenas um entediado, talvez ele simplesmente não compreenda como aquilo tudo pode ter algum sentido. Há uma forte pressão interior para que ele seja indiferente, mas nem ele consegue se autodefinir para agir dessa maneira. É um personagem com nuances bem desenvolvidas pelo roteiro e pelas imagens construídas do filme.

Acredito que a diretora conseguiu harmonizar uma narrativa existencialista sem vitimização ou heroificação do personagem, características que, particularmente, senti e me incomodaram nos seus filmes anteriores. Em “Somewhere” há um humanismo para pensarmos sobre nós mesmo, e isso é muito bom!

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