05 fevereiro 2011

Os gritos de uma mulher

Kika está no interior de seu quarto, o único de uma casa em um bairro distante. É uma madrugada fria, e deitada com os olhos bem abertos ela escuta os gritos de uma mulher. Esses gritos às vezes se misturam com um choro desesperador.

Na impossibilidade de adormecer, Kika se levanta e caminha em círculos pelo seu quarto. As frieiras de seus pés coçam ardidamente e seus olhos parecem carregar pesos insuportáveis. Mas ela está decidida a andar até cansar.

Kika foi uma criança com alguns problemas estranhos para enfrentar. Seus pais costumavam rezar muito e logicamente a obrigavam fazer isso também. Em uma de suas orações desconcentradas, ela sentiu um sussurro em seu ouvido, não conseguia entender muita coisa, apenas que a palavra 'sangue' se repetia várias vezes. A partir desse dia, todos os dias ela via alguém ensanguentado, era comum na escola, na rua e na TV. Até que uma vez seu pai matou um homem dentro de casa. Foi a última pessoa ensanguentada que ela viu.

Nunca saberemos se ver sangue é ou não um trauma para Kika, que parou de rezar aos quinze anos de idade.

O dia amanhece. Kika está estirada em sua cama. Os gritos e choros continuam. Com os olhos fixos no teto, Kika sente o desespero em seu coração.

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