02 janeiro 2011

A ferida de S.

Na última semana do mês de julho Soraia percebeu que a ferida em seu braço estava cada vez mais profunda.

Foi um prego que atingiu o seu braço direito logo acima de seu cotovelo. Ela fugia da chuva torrencial fora de época e se escorou numa madeira cheia de pregos.

É muito difícil saber alguma coisa sobre Soraia, ela detesta seu nome e tem 28 anos.

Voltemos à ferida. Ao redor do pequeno orifício provocado pelo prego começava a surgir um aspecto arroxeado. O centro da ferida era um círculo escuro que misturava sangue coagulado e pele ressecada. Fazia dois dias que Soraia havia tirado o curativo feito no pronto-socorro, mas a ferida não havia fechado.

Soraia resolveu mexer na própria ferida.

Com uma pinça esterilizada ela tirou a casca de sangue coagulado e um líquido amarelo saiu da ferida e escorregou pelo cotovelo. Ela limpou cuidadosamente com uma gaze.

A ferida ficou aberta e limpa.

Soraia tirou diversas fotos de sua ferida. Pensou até em fazer uma exposição. Soraia não era fotógrafa profissional muito menos artista plástica. A idéia se foi rapidamente.

Soraia despejou uma quantidade talvez excessiva de água oxigenada e na seqüência tapou a ferida com um novo curativo.

Até altas horas da madrugada Soraia brincou com as fotos de sua ferida e chegou até postar algumas na internet. Ela adormeceu e acordou três horas depois. O seu braço estava inchado e o curativo rompera-se. Soraia correu ao banheiro jogou bastante água em cima da ferida e a observou.

A leve dor que Soraia sentia parecia lhe confortar, por algum motivo estranho ela estava curtindo aquele incômodo no braço. A ferida estava aberta e o círculo arroxeado estava imponente em toda a sua forma.

O que Soraia faria quando essa sua ferida cicatrizasse?

Soraia ficou nua e percebeu que em seu corpo não havia nenhuma cicatriz.

Eram 5 da manhã e Soraia tomou um banho quente e demorado.

Nenhum comentário: