11 janeiro 2011

Café coado


Madrugada de sexta pra sábado em Manaus e o caminhoneiro que conversava com a gente pegou uma garrafa de cerveja vazia e a bateu com toda a força na sua perna direita. Escutamos um estampido metálico.

Estávamos no ET Bar, uma ótima e democrática opção em Manaus nos dias que antecedem os sábados, e a ação do caminhoneiro contra a sua perna foi para mostrar o metal que foi colocado no seu osso após um acidente de moto, numa vida muito louca que ele levava antes de se aquietar e hoje exercer a profissão que o leva de Campinas à Venezuela.

Gosto de conhecer pessoas e suas histórias, talvez muita gente também curta isso, e um dos bons motivos é perceber o quanto coisas simples possuem significados expressivos e às vezes transformadores.


Pensei nisso enquanto meu irmão conversava com seus amigos da universidade, eu fiquei ao lado da minha irmã, uma amiga dela e da minha cunhada apreciando um chorinho que começou a ser tocado pelos músicos do bar. Estávamos ao ar livre, quase no meio da rua e no aglomerado de freqüentadores do ET que ocupam a via pública, esta não chega a ficar fechada, mas os carros reduzem a velocidade e passam utilizando uma ou duas das três faixas.

Em outro lugar agradável da cidade, o Palacete Provincial, um centro cultural localizado no centro da cidade e que na época da minha infância era um batalhão da polícia militar, acompanhei a conversa de uma das moças que atende no Museu da Imagem e do Som que funciona dentro do palacete.

Ela comentava sobre o seu namorado que havia comprado o absorvente errado, e parecia ter sido meio desesperador, pois o fluxo dela é muito intenso nos primeiros dias. Isso me jogou direto para o passado quando minha mãe pedia pra eu comprar absorventes e me especificava tudo nos detalhes, eu não entendia muito bem quais as diferenças, mas sabia exatamente qual a marca que ela detestava.

Um dos maiores desafios infantis foi fazer essa compra na antiga Lobrás (Lojas Brasileiras) que funcionava num prédio do centro da cidade. A loja era imensa e sempre muito lotada. Mas foi ótimo, pois superei de boa e acredito que foi um dos momentos que me fez perceber que as coisas realmente são mais simples do que parecem, basta nos posicionarmos com firmeza.

Hoje conheço muito bem o absorvente que a minha companheira utiliza e se for preciso comprá-lo de urgência farei com muito prazer, pois terá o aspecto simbólico de que a TPM do mês está chegando ao fim.

Pra encerrar, sugiro o café coado do Café do Pina, que fica dentro do Palacete Provincial. É tomando algumas xícaras que tenho desfrutado de outras histórias, baseadas também numa infância que aconteceu num rincão distante da Albânia e está no livro “Crônica de Pedra”, de Ismail Kadaré. Faltam 70 páginas e alguns cafés.

2 comentários:

Pedro Fiuza disse...

"Hoje conheço muito bem o absorvente que a minha companheira utiliza e se for preciso comprá-lo de urgência farei com muito prazer, pois terá o aspecto simbólico de que a TPM do mês está chegando ao fim."

Você é gentleman e um filósofo, William! Parabéns pelo texto!

Unknown disse...

O texto ainda seria verdadeiro mesmo que não existisse essa sua infância, pois, ao universalizar tamanho intimismo, tornou-nos cúmplices de tais palavras. Agradeço a generosidade com que elas foram escritas e como vieram até a mim.