12 dezembro 2011

A dor dos meus calos

- Para onde você está indo? - Perguntou a mulher de unhas vermelhas ao padre numa pequena rua de asfalto gasto.
O religioso respondeu que estava a caminho do fim.

A mulher resolveu seguir o padre, que não se opôs, apenas acelerou os passos, talvez numa atitude de desafio.
A tarde findava e para as casas os trabalhadores retornavam, a rua com seu asfalto sofrível parecia se tornar cada vez mais áspera. As sombrancelhas mal feitas da mulher estavam úmidas de suor e os seus olhos abaixo apenas acompanhavam a cadência do padre.

Com a noite tudo escureceu e a mulher perdeu o padre de vista.
Roendo as unhas, a mulher pensou em voltar, mas a curiosidade sobre o verdadeiro fim lhe consumiu a alma e ela também se perdeu na escuridão.

Quando os calos de seus pés começaram a descascar a pele e redondas feridas lhe apareciam, a mulher encontrou uma família velando um corpo na porta de casa. Quis se aproximar mas ficou com medo de encontrar o padre já defunto. 

Descobriu que nesse momento sua fé já não existia mais. O choro das pessoas em torno do moribundo lhe angustiava, queria liberdade. Era o desespero de sua consciência. Ela saiu ao encontro do fim e o fim lhe apareceu antes do esperado.

Como acreditar nos nossos medos? Foi a última pergunta que ela mesmo se fez.

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