Outro dia entrei no ônibus e à minha frente
estava um rapaz que aparentava entre 16 e 18 anos de idade. Quando ele chegou na
catraca, perguntou ao cobrador se o coletivo passaria no estádio, e com a
resposta afirmativa o tal rapaz encostou no leitor do bilhete único uma pequena
bolsinha de pano e zíper, em seguida pediu ao cobrador que liberasse a catraca.
Para quem não conhece o sistema de bilhete
único em São Paulo, quando é um bilhete normal basta encostá-lo no leitor que a
catraca libera automaticamente, desde que o bilhete possua créditos,
obviamente; quando o bilhete é especial, geralmente como benefício para idosos
ou pessoas com necessidades especiais, o beneficiário do bilhete precisa
encostá-lo no leitor e esperar que o cobrador libere a catraca.
Pois bem, o cobrador solicitou ao menino
que mostrasse o bilhete que estava dentro da bolsinha, e lá estava a foto de
uma senhora no cartão. O cobrador perguntou quem era a mulher dona do bilhete,
o rapaz respondeu que era sua tia. Prontamente o cobrador disse que não ia liberar e
alertou de que se fosse outro funcionário teria confiscado o bilhete e a tia dele
perderia o benefício.
O rapaz infrator continuou parado na
catraca dizendo que estava indo encontrar a sua tia para entregar o bilhete. O
cobrador perguntou se o rapaz não possuía dinheiro para pagar a passagem e,
como era de se esperar, teve um não como resposta.
Eu já estava enfurecido e torcendo para que
o cobrador mantivesse a rigidez, mas que nada, foi conivente e liberou a catraca para o
rapaz apenas alertando para ele não fazer mais isso.
É justamente essa conivência que me deixa
triste pois reflete nossa fraca cidadania. Comentei com o cobrador que aquilo
era um ato de corrupção e que é muito fácil apenas jogar a culpa pra cima dos
políticos. Confesso minha covardia em não ter reclamado e buscado evitar que o
rapaz passasse pela catraca, porém nunca sabemos com quem estamos lidando e a
violência é tão presente quanto pequenos gestos de corrupção.
Precisamos cada vez mais de uma ampla
conscientização sobre o valor de um bem público. Quem pagou aquela passagem
para ele ir ao estádio, muito provavelmente para comprar o ingresso de um jogo
de futebol, foram os cofres públicos, e isso não pode ser admitido, e
principalmente por quem deveria zelar por eles, como é o caso do cobrador de
ônibus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário