23 dezembro 2011

África logo ali


Meus olhos estavam semiabertos, minha mente relaxada e acordando. De repente ouvi algo como o choro de um cachorro, mas era tão baixinho que não sei se o meu estado 'saindo da sonolência' estava criando coisas na minha cabeça.

Resolvi levantar e na janela bem acima da cama eu enxerguei a cabeça de um cachorro que, com todo o esforço do mundo, estava tentando entrar na casa, ensaiei empurrá-lo pra fora, mas ele foi mais rápido e adentrou.

O cão, um vira-lata de pelos pretos arrepiados e com coleira, circulou pela casa um tanto perdido, depois parou e ficou me olhando. Tenho plena certeza que ambos estavámos confusos.

No relógio: 5:30 da manhã.

Já um pouco mais consciente da minha existência no mundo, abri a porta de frente da casa e o simpático cão despertador saiu correndo e tomou o rumo da praia. Em seguida fiquei congelado com o que vi.

Novamente falei pra mim mesmo que não havia nada de onírico naquilo tudo e que era a pura realidade diante dos meus olhos.

Presenciei, ou melhor, experimentei um nascer do sol inesquecível. Os raios solares estavam exatamente na linha do horizonte do mar e a forte luz amarela se impôs como um rei.

Foi assim que fui recebido na minha primeira manhã em Barra de Maxaranguape (RN).

***

No final da tarde caminhei pela praia até o Cabo de São Roque, conhecido como o ponto do continente americano mais próximo da África e da Europa. O local é cercado por uma bonita falésia e segui com passos lentos, parando para admirar a paisagem e molhando os pés no mar.

O lugar estava totalmente deserto.

Num determinado momento, eu avisto, um pouco mais ao longe, uma espécie de caixa boiando no mar junto à praia, pensei que pudesse ser uma caixa de isopor, mas logo percebi que não era. Parecia de metal e era na cor branca. Parei e fiquei observando.

Depois de um tempo, a misteriosa caixa encalhou na areia.

Daí em diante a imaginação percorreu diversos lugares, o mais mórbido talvez tenha sido pensar que era um pedaço da fuselagem do avião da Air France que caiu no Atlântico no ano passado; e o mais lunático foi desconfiar de ser algum tipo de lixo espacial.

Apesar do receio de encontrar algo como o Césio 136, resolvi me aproximar para ver o que era. Fui em passos lentos.

Alguns metros antes da caixa percebo um outro pedaço de metal branco estirado na areia. “Caraca, é a porta do avião”, pensei de forma besta. Besta porque logo vi que era a porta de uma geladeira. Sim, a caixa misteriosa não era nada além de uma geladeira.

Fiz o caminho de volta com outros parâmetros na imaginação: se a geladeira havia sido atirada do alto da falésia ou se aquele foi o destino desse pobre eletrodoméstico após meses em alto mar.

***


Não tenho foto nem vídeo do cachorro e da geladeira, mas compartilho com vocês o nascer do sol e o local onde me aproximei dos companheiros africanos.

Amanhecer:




Cabo de São Roque:

Nenhum comentário: