Meus olhos estavam semiabertos, minha mente
relaxada e acordando. De repente ouvi algo como o choro de um cachorro, mas era
tão baixinho que não sei se o meu estado 'saindo da sonolência' estava criando
coisas na minha cabeça.
Resolvi levantar e na janela bem acima da
cama eu enxerguei a cabeça de um cachorro que, com todo o esforço do mundo,
estava tentando entrar na casa, ensaiei empurrá-lo pra fora, mas ele foi mais
rápido e adentrou.
O cão, um vira-lata de pelos pretos arrepiados
e com coleira, circulou pela casa um tanto perdido, depois parou e ficou me
olhando. Tenho plena certeza que ambos estavámos confusos.
No relógio: 5:30 da manhã.
Já um pouco mais consciente da minha
existência no mundo, abri a porta de frente da casa e o simpático cão
despertador saiu correndo e tomou o rumo da praia. Em seguida fiquei congelado
com o que vi.
Novamente falei pra mim mesmo que não havia
nada de onírico naquilo tudo e que era a pura realidade diante dos meus olhos.
Presenciei, ou melhor, experimentei um
nascer do sol inesquecível. Os raios solares estavam exatamente na linha do
horizonte do mar e a forte luz amarela se impôs como um rei.
Foi assim que fui recebido na minha
primeira manhã em Barra de Maxaranguape (RN).
***
No final da tarde caminhei pela praia até o
Cabo de São Roque, conhecido como o ponto do continente americano mais próximo
da África e da Europa. O local é cercado por uma bonita falésia e segui com passos lentos,
parando para admirar a paisagem e molhando os pés no mar.
O lugar estava totalmente deserto.
Num determinado momento, eu avisto, um
pouco mais ao longe, uma espécie de caixa boiando no mar junto à praia, pensei
que pudesse ser uma caixa de isopor, mas logo percebi que não era. Parecia de
metal e era na cor branca. Parei e fiquei observando.
Depois de um tempo, a misteriosa caixa encalhou na areia.
Daí em diante a imaginação percorreu
diversos lugares, o mais mórbido talvez tenha sido pensar que era um pedaço da
fuselagem do avião da Air France que caiu no Atlântico no ano passado; e o mais
lunático foi desconfiar de ser algum tipo de lixo espacial.
Apesar do receio de encontrar algo como o
Césio 136, resolvi me aproximar para ver o que era. Fui em passos lentos.
Alguns metros antes da caixa percebo um
outro pedaço de metal branco estirado na areia. “Caraca, é a porta do avião”, pensei de forma
besta. Besta porque logo vi que era a porta de uma geladeira. Sim, a caixa
misteriosa não era nada além de uma geladeira.
Fiz o caminho de volta com outros
parâmetros na imaginação: se a geladeira havia sido atirada do alto da falésia
ou se aquele foi o destino desse pobre eletrodoméstico após meses em alto mar.
***
Amanhecer:
Cabo de São Roque:
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