17 dezembro 2010

Taturana

A realização do Seminário de Cinema Contemporâneo em torno de uma recente safra de longas brasileiros confirmou a fina sintonia da Mostra Londrina de Cinema com a preocupação em debater conteúdo.

Infelizmente não assisti a todos os títulos apresentados, confira abaixo a lista completa, mas deixarei aqui uma breve impressão sobre “Vigias”, primeiro longa do pernambucano nascido em Brasília, Marcelo Lordello.

A principal virtude de “Vigias” está em seu aspecto degustativo, a narrativa não empurra o espectador logo de cara no arcabouço da crítica social à qual o filme se propõe. Aos poucos, os elementos vão sendo construídos de tal modo que possamos buscar, conforme nossas próprias percepções, as reais inquietações que o filme transmite.

Logo se percebe que os personagens principais não são os vigilantes entrevistados e muito menos os moradores dos prédios da cidade do Recife. O foco central do filme está nos valores de uma sociedade imersa no medo da violência urbana. Eis a força de “Vigias”. Assistir ao filme não é absorver uma ou mais histórias de vida, e sim nos lançarmos a um debate interior, seja por identificação ou não. Há uma sociedade que sente a necessidade de ser monitorada, pois sente também que precisa se defender. É uma sociedade onipresente no filme e que deixa sua marca através do medo.

Refleti pessoalmente sobre esse estado das coisas na nossa urbanidade. A impressão é que segurança e medo se estabelecem como pilares da nossa sobrevivência.

No debate após a sessão, mediado pelo crítico Luiz Carlos Oliveira Jr, responsável pelo Seminário, Lordello ressaltou que seus filmes partem de suas inquietações, o que revela seu potencial em observar e degustar o que ele mesmo apreende ao seu redor, sensibilidade positiva e necessária para trazer bons frutos à nossa cinematografia.

A Mostra Londrina de Cinema é organizada pela Kinoarte, que também publica a revista Taturana. Na edição que foi lançada durante a mostra, há algumas notas escritas por Kubrick aos 32 anos de idade, na primeira temos o seguinte:

“Eu não acho que escritores ou pintores ou cineastas funcionam porque tem algo particular que queiram dizer. Eles têm algo que sentem.”

Para conhecer mais sobre a Mostra Londrina de Cinema e a Kinoarte: mostralondrina.com

-----------------------------

Filmes exibidos no Seminário de Cinema Contemporâneo durante a 12ª Mostra Londrina de Cinema com apresentação e debate de Luiz Carlos Oliveira Jr:

“Permanências”, de Ricardo Alves Jr (34’/MG/2010)
“Chantal Akerman, de Cá”, de Gustavo Beck e Leonardo Luiz Ferreira (62’/RJ/2010)
“Avenida Brasília Formosa”, de Gabriel Mascaro (85’/PE/2010)
“A Fuga da Mulher Gorila”, de Felipe Bragança e Marina Meliande (85’/RJ/2009)
“Vigias”, de Marcelo Lordello (70’/PE/2010)

Nenhum comentário: