28 dezembro 2010

A ex-vizinha, o elevador e a rede social

Foi no elevador da minha primeira residência em São Paulo. A moça morava alguns andares acima e juro, por tudo que há mais sagrado, que a minha pergunta não possuía nenhuma intenção mais maliciosa. Após os básicos “ois, como vai?” eu emendei: - Tu curtes cinema?

Ela: Sim, mas costumo ir sozinha!

Iau!

Foi um dos foras mais sem noção que levei, principalmente porque eu estava apenas, podem acreditar, apenas puxando conversa.

Saí do elevador após um básico “tchau” e entrei em casa. Fui para o quarto e com o volume em estado máximo no meu toca CD Aiwa, fiquei sentindo as vibrações do álbum ‘In Utero’ do Nirvana. Sim, estávamos nos anos 90. E muito provavelmente o nerd criador do facebook mal degustava sua high school.

Pois é, não sou nenhum dos trintões mais bilionários do mundo e muito menos comentarei sobre o tamanho dos seios dessa ex-vizinha aqui no meu blog, porém ‘A Rede Social’ de David Fincher me fez trazer esse trágico papo de elevador como introdução de uma reflexão sobre um dos aspectos desse filme.

Na obra de Fincher, a mágoa de um expressivo fora fez com que um estudante de Harvard desse o pontapé inicial ao que viria ser o todo poderoso Facebook. Mas antes da garota dizer para o nerd que o relacionamento entre eles havia chegado ao fim, o que temos no filme é um diálogo cirurgicamente preparado para nos introduzir não somente ao personagem central do filme, mas também ao elemento crucial de tudo que viria a seguir: fazer parte de algum clube, círculo e por que não, uma rede social.

O roteiro é basicamente uma longa luta judiciária permeada pelos vigorosos valores capitalistas norte-americanos junto com uma obstinação em montar uma das redes sociais mais populosas da internet. Mas o efeito prático do site no ar é que extrapola todos os meandros judiciais, o Facebook se espalhou pelo mundo e o que temos em 2010 é uma rede social já intrínseca ao cotidiano de muitos seres sobre a Terra.

‘A Rede Social’ pode suscitar julgamentos acerca dos valores morais de Mark Zuckerberg, um dos fundadores do Facebook, mas ao longo de todo o filme busquei superar isso, me afastei para tentar compreender o significado de ‘ser aceito’ por alguém ou alguns.

Não é de hoje a necessidade em estar num círculo fechado de pessoas, na Itália do Renascimento, por exemplo, eram comuns as confrarias, círculos de amizades com o intuito de fortalecer a cooperação mútua. Grupos e grupinhos ocuparam a preocupação de muitos humanóides ao longo dos séculos. Mas em que escala vivemos isso nos dias atuais?

A internet parece nos permitir ‘ser aceitos’ onde talvez jamais seríamos, mas ainda bem que nem sempre é fácil, e o plano final de ‘A Rede Social’ talvez ilustre que as nossas relações mais significativas dependem principalmente de como reagimos ao que uma outra pessoa tem a nos dizer. Um dia a minha reação foi escutar Nirvana em alto volume.

Um comentário:

Unknown disse...

Gostei muito da sua reflexão e gostei mais ainda do filme!
Mas acho que o "babaca" citado no filme foi justamente a reação que o Mark teve diante da rejeição... digamos... social.
Em meio a tantas possibilidades, ele quis mostrar que ele tinha poder, que ele era melhor e que as atitudes e decisões dele eram melhores do que as do outros.
Ou seja, se esforçou para ser um babaca, mas não o condeno num todo, mas pergunto, teria tanto sucesso se a sua reação fosse diferente?

E na boa, essa tua vizinha é uma babaca...rs