20 dezembro 2010

Poltrona das selvas

A chuva caía forte na cidade de São Paulo quando o carro veio para me levar à Unisa (Universidade Santo Amaro) onde eu participaria como convidado na platéia do “Post Factum”, programa de TV realizado pelos alunos do curso de Rádio&TV, e que teria como pauta as Oficinas Kinoforum.

Assisto ao Canal Universitário apenas em raras ocasiões porque considero pouco ousados os programas que ali são exibidos. Gosto de pensar a universidade como um espaço de liberdade e experimentação, aspectos que proporcionariam a gostosa aventura de arriscar, lançar-se ao desconhecido para medir os resultados. Infelizmente o Canal Universitário navega na direção contrária com seus inumeráveis programas de entrevistas, a maioria cansativos por natureza.

“Post Factum” também é um programa de entrevistas, mas com a oportunidade de acompanhar de perto os seus bastidores, abstraí a ausência de ousadia e experimentação e pude verificar uma outra característica relevante para um processo de formação universitária: o empenho e compromisso para que tudo funcione e dê certo.

Pra começar, o grupo de alunos que realizou o programa fez um bom trabalho de pesquisa, que refletiu nas perguntas feitas ao entrevistado Jorge Guedes, coordenador das Oficinas Kinoforum. As questões buscaram apresentar o espírito motivador das Oficinas e saber mais sobre o envolvimento daqueles que as conduzem. Muito mais do que mostrar o valor prático do curso, a abordagem no programa enfatizou captar a sua essência.

Outro ponto positivo que pude observar é a dinâmica de produção, era o terceiro programa que o grupo realizava neste ano, e a familiaridade na condução técnica e de operacionalidade do estúdio se mostravam quase íntimas. Isso levava também a um ambiente mais descontraído, amigos produzindo com amigos e todos numa mesma sintonia.

As águas torrenciais quando caem sobre São Paulo geralmente se vinculam ao caos: trânsito intenso, enchentes, alagamentos e às vezes mortes. Após o programa fiquei pensando se não é de um toró que a produção universitária de televisão precisa para exercitar uma caótica criatividade capaz de proporcionar experiências que vão além de qualquer didatismo. O audiovisual é uma ferramenta forte e contundente, e quão maior for sua versatilidade, mais frutos significativos deixará.

Ao longo de todo o programa fiquei imaginando se há uma real necessidade do cenário dialogar com o assunto tratado. No lugar das tradicionais “cadeirinhas do diretor”, o apresentador e convidado poderiam muito bem estar sentados numa poltrona forrada com pelos de gorila, o que nos refrescaria com um selvagem surrealismo, que por sinal anda muito esquecido no Canal Universitário.

Um comentário:

Henrique Gois disse...

Também acho que muitas vezes falta ousadia nos programas do CNU, vi poucos até hoje, mas dos que vi um numero muito reduzido me despertou interesse.
Legal você ter visto os lados bons, por que é muito difícil produzir com tão poucos recursos, como era nosso caso. Acho que tínhamos que tentar mais coisas, mas o tempo de produção muito curto e há outros tantos trabalhos que necessitamos dar o mesmo interesse, mas além de tudo penso que há desinteresse das faculdades de que seus docentes criem coisas novas, vejo como se estivessem preparando-nos para um mercado preso onde tudo é muito igual e nós muitas vezes nos acomodamos com isso.