10 outubro 2010

Quando o trem passar

À frente de Joaquim está um viaduto. Quase uma da manhã, cidade vazia e seu carro está parado sobre aquela via que sobrevoa uma linha de trem. Joaquim sempre gostou de silêncio, e até a próxima passagem dos vagões que vinham do subúrbio ele desfrutaria de um silêncio para refletir melhor sobre si mesmo.

Dois meses antes, Vera e Joaquim viviam intensamente uma viagem em que percorreram mais de 4000km país afora. Joaquim possuía muito dinheiro e gastá-lo com uma mulher inteligente e 10 anos mais jovem parecia a realização de um sonho. Nada de ruim aconteceu durante aquela viagem, mas um fato que durou apenas cinco minutos estava sendo lembrado agora por Joaquim.

Em uma das cidades daquela viagem, Vera havia corrido por dois quarteirões, estava muito suada e não trouxera os cosméticos que havia ido comprar. Ela disse para Joaquim:

- Eu vi um homem ser atropelado.

Joaquim ficou calado. Ela parecia que ia desabar em lágrimas, mas apenas mirava profundamente nos olhos do parceiro aguardando uma resposta. Joaquim observou o suor que escorria pelo pescoço de Vera. Eles estavam na calçada de uma avenida, muito calor e fluxo intenso de carros e ônibus. Joaquim segurou Vera pela cintura e beijou os ombros dela lambendo todo o seu suor.

Vera não entendia aquilo e pediu que ele parasse. Assim que ele a soltou, Vera disse:

- Nunca mais desrespeite meus sentimentos.

Eles estão juntos até hoje e se entendem bem. Porém Joaquim está apaixonado por uma mulher chamada Sílvia e do outro lado do viaduto ele deverá comunicar isso a Vera.

A angústia toma conta de Joaquim enquanto embaixo do viaduto o trem produz um som ensurdecedor.

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