02 novembro 2010

Diamante e sonhos

O esmalte de suas unhas já estava bastante gasto e suas olheiras ofereciam charme ao seu olhar. Em suas mãos havia um diamante.

Sozinha no banheiro de um bar, ela admirava o brilho daquele diamante. Tinha a certeza de que poderia vendê-lo e lucrar com isso.

Lembrou que a sua vida jamais havia lhe dado lucro nenhum.

Trinta anos de idade e tudo que ela possuía era a amargura de uma existência. Ela não queria mais sonhar, havia chegado o momento de realizar ao menos um de seus sonhos. E qualquer que fosse o sonho, ele precisava ser resultado de algum lucro. Ela lembrou que a cicatriz na sua nuca já excitou muitos homens, mas foi a ignorância de um que lhe deixou essa marca, resultado visível entre os diversos prejuízos que obteve ao longo de sua trajetória.

Ela se esforçou para não lembrar desse homem, mas era impossível, o sorriso torto daquele monstro pelo qual se apaixonou aos 20 anos está costurado em toda a superfície de sua memória. Quis chorar naquele fétido banheiro, mas o brilho do diamante lhe segurou as lágrimas.

Um carro passava em frente ao bar. No banco de trás estava Alfredo, que aos 18 anos voltava embriagado de uma festa. Ele olhou para dentro do bar e viu homens jogando sinuca e alguns poucos homens e mulheres sentados às mesas ao redor. Mal ele podia imaginar o renascimento que ocorria nos fundos daquele estabelecimento.

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