13 dezembro 2009

Sequelas

Identifico a importância de um filme com as sequelas que ele provoca em cada espectador, principalmente quando as dubiedades e incertezas se concretizam como os elementos chave. Ontem, 12 de dezembro de 2009, vivi uma maratona Woody Allen assistindo aos filmes Desconstruindo Harry, Tiros na Boradway e Setembro, da qual saí com uma vontade de externar algumas percepções.

Longe de buscar uma unidade entre os três filmes, refleti sobre a participação de nós mesmos em nossos objetivos pessoais. O desejo de ser único e ter a sua personalidade reconhecida é comum no mais comum dos homens, a partir daí podem surgir verdadeiras sagas em busca do mais nobre reconhecimento. Em função de que?

Quando ao fim de sua trajetória, o personagem principal de Tiros na Broadway conclui que não é um artista após tentar se firmar como tal ao longo de todo o filme, talvez ele lance um desafio presente nas duas outras obras de Allen, até que ponto devemos insistir em ciar algo ou superar certos limites?

A busca por certezas e afirmações consome uma energia considerável e acredito que talvez seja mais desafiador pisar em terrenos mais misteriosos. Os três filmes me fizeram pensar sobre isso, pois apesar de personagens bem desenhados e extremamente consistentes dentro das narrativas dos filmes, todas suas histórias de vida parecem ricas em incertezas.

Quando a dificuldade do escritor Harry, em Desconstruindo Harry, se concentra na sua relação com os próprios personagens, pois todos têm sua gênese na realidade, os significados da criação parecem se perder completamente, pois as complexidades das pessoas não conseguem ultrapassar os limites entre ficção e realidade. E são essas complexidades que Allen nos apresenta sem julgá-las ou defini-las, cada personagem é para cada espectador um poço de questões.

Em 2009, tive duas idéias para a realização de documentário, porém não levei a cabo nenhuma delas, apesar de um envolvimento intenso com cada assunto, um deles, inclusive, faz parte de leituras quase diárias. Não acredito que são projetos totalmente arquivados, mas hoje os vejo como assuntos pessoais e que a minha própria investigação em cima de cada um deles me favorece para amadurecer as minhas concepções sobre os mesmos.

Um amdurecimento que pude apreender ao assistir Setembro, pois as complexas relações entre os personagens e suas dificuldades de superação exemplificam de forma mais crua as peripécias pelas quais passam os personagens de Harry e Tiros na Broadway. A casa de campo representa um confinamento pessoal que exige de cada um a verdade sobre si mesmo. Eis aí a minha sequela.

Não sou exigente comigo mesmo, mas às vezes caio num terreno murado por todos os lados e fico horas e dias na tentativa de pular esse muro. Descobri então que tenho que evitar a queda nesse terreno, pois a criação e a satisfação pessoal se encontram num terreno superior, sem muros e limites, mas precisamos ter cuidado para não dar o passo em falso.

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