14 dezembro 2009

Rio próximo

É necessário olhar o rio de frente!
A sensação é nítida, Manaus vira as costas para o Rio Negro.

Nos últimos dois anos visitei a cidade em cinco ocasiões e foi possível perceber que Manaus está cada vez mais abandonada, feia, suja, caótica e violenta. Sei que isso não é nenhuma novidade quando se trata de uma grande cidade brasileira, mas gostaria de falar sobre isso em torno da relação da Manaus com o Rio Negro.

Morei em Manaus até os 17 anos e o rio sempre estava associado ao lazer, na verdade aos raros lazeres, pois não frequentava a praia da Ponta Negra e os passeios de barco eram bem escassos. Com a exceção de um ano, todo esse período foi vivido em bairros afastados do rio. O meu relacionamento com as águas escuras do Rio Negro era distante.

Um outro fator curioso é que enquanto criança não fui educado para olhar para o rio, entendê-lo como parte importante da cidade e me orgulhar desse gigante espetáculo da natureza. Não lembro uma vez sequer do Rio Negro ser objeto de algum tipo de assunto. Vivi uma infância urbana em meio ao asfalto, concreto e bairros pouco arborizados, apesar de me encontrar no coração da selva amazônica.

Será que eu era uma exceção entre muitas crianças?

Não sei...

Quando se navega pelo Rio Negro margeando a cidade de Manaus, percebe-se uma ofensa. Nenhum plano urbano para a orla, são construções improvisadas, sujeira e alguns estaleiros.

É uma cidade inteira de costas.

O desenvolvimento urbano de Manaus está custando muito caro, é uma das cidades com maior movimentação de dinheiro no país, investimentos crescem a cada ano e os olhos internacionais sempre muito atentos a tudo que ali acontece, mas a noção de convívio social adequado não consta em nenhuma das pautas. A maioria das pessoas vive mal, se transporta pessimamente e não possui nenhum refresco visual, apesar das recentes iniciativas de parques e espaços culturais. Acredito que falta agregar mais valor ao sentimento do manaura por sua cidade.

Um sentimento que não parta do ufanismo e sim para valorizar o espaço público, assim como a natureza serviu de alicerce para Gaudí conceber todas as suas obras, ela também poderia ter sua harmonia respirada dentro dos limites urbanos de Manaus.

Que as obras para a copa do mundo não sejam as únicas esperanças de melhorias na urbanização da cidade, e que os olhos se voltem para o rio, pois ele é tão humano quanto nós com a riqueza de nossas nuances. Ele seca, depois enche, depois seca só um pouquinho, enche de novo...

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