11 setembro 2011

Um homem de muletas e a pastelaria

Quando cheguei em Curitiba para acompanhar a itinerância do Festival de Curtas para o qual trabalho, peguei um ônibus no aeroporto e desci em frente à Biblioteca Municipal, onde iria esperar pela Denize, que produziu e coordenou essa itinerância. Quando lá desembarquei do coletivo, ela não havia ainda chegado, andei uns poucos metros e dei de cara com uma pastelaria, entrei e pedi um pastel de queijo. O estabelecimento estava lotado, eram por volta das 13h e não havia lugar para sentar. Peguei meu pastel e fui degustá-lo na calçada, o que me facilitaria também esperar pela Denize.

Após umas duas mordidas, um homem de meia idade e de muletas se aproximou de mim, apesar de estar mal vestido logo percebi que não se tratava de um mendigo. Logo ele puxou conversa comentando como estava lotada a pastelaria, respondi alguma coisa e ele começou a falar da bondade e generosidade do dono, o que era uma das chaves de seu sucesso.

A história do homem de muletas era um pouco confusa, mas pelo que pude apreender, um dia ele teve um bom emprego, gozava de uma boa situação financeira e era cliente assíduo da pastelaria. Mas a sua vida sofreu uma reviravolta, ele perdeu tudo que tinha e chegou a morar na rua, e numa dessas situações precárias o dono da pastelaria lhe encontrou e disse que ele poderia ir até o seu estabelecimento que o tratamento seria igual, pois ele considerava que pelo fato dele ter sido um bom cliente, isso o ajudou a crescer e que nada mais justo que retribuir principalmente naquela situação em que o homem de muletas se encontrava.

Considerei muito humano aquele homem compartilhar comigo essa história, e esse exemplo de generosidade me chamou bastante a atenção. Gosto de Curitiba, é uma cidade bem agradável, tenho bons amigos curitibanos e inclusive já namorei uma curitibana, porém nas três vezes anteriores que visitei a cidade, eu senti uma hostilidade peculiar, como se qualquer aproximação fosse impossível. Dessa vez, essa abordagem inesperada logo na minha chegada e falando de ações generosas me tocou, e nos dois dias que passei na cidade, senti tudo mais aberto e uma receptividade que não havia ainda experimentado em Curitiba.

Costumo dizer que as coisas se facilitam quando se entra de coração aberto, e talvez esses quase 8 anos sem ir à Curitiba me amadureceram mais do que as transformações que a cidade possa ter sofrido. Sei lá, poder ser uma viagem da minha parte, mas quis compartilhar esse sentimento.

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