26 janeiro 2010

Tiradentes 25/26

Cheguei em Tiradentes sob uma chuva extremamente torrencial no dia 25 de janeiro. No dia seguinte, Ana Bárbara, uma amiga paraibana, me informa que o janeiro de João Pessoa também está sob chuvas, fato muito raro. Há mais de um mês os noticiários mostram as diversas consequencias do aguaceiro sobre o país. Eis a lavagem do Brasil.

Pela luz dos curtas, o Brasil tem sido lavado de uma forma muito menos estranha e trágica. O muito bom da Mostra de Tiradentes é o encontro dos fazedores de curtas. As sessões do dia 25 trouxeram algumas experiências pertinentes, não somente pela abordagem dos temas e propostas, mas muito em função de uma aproximação dos realizadores com a vontade de filmar.

Ter vontade às vezes é frustrante pela ansiedade que gera, e acredito que ter a vontade de fazer um filme é muito encontrar uma relação intima com o seu objeto. Talvez isso se torne mais visível em documentários, mas considero que isso valha para qualquer filme. Daí passei quase todas as sessões buscando compreender quais relações íntimas estavam naqueles filmes e se houve em algum ponto do processo em que as frustrações poderiam jogar todo projeto fora.

Assisti a duas sessões e ambas traziam à tela filmes de aproximação com seus personagens, quase que forçando o espectador a participar de suas narrativas. E o movimento mais interessante de tudo isso me pareceu uma fuga do esquema "contar uma história" e mais próxima do "viver uma história". Não foram usados persoangens em situaçõs extremas, de vida ou morte, e sim de dúvidas e combate com suas próprias emoções.

Apesar de encontrar todos os fazedores fora da sala de cinema, nas ruas e bares, optei por não abordá-los com essas minhas questões. Prefiro conhecê-los através de papos de botequim. Nada melhor que uma noite de sono para amadurecer idéias.

O dia 26 trouxe o debate desses fazedores com o público, e ali cada um expos suas motivações e os conceitos norteadores dos seus filmes. Foi notório perceber que os processos foram vivenciar experiências de vida, alguns mais planejados e outros menos. O que me faz refletir que as relações intimas que eu buscava na verdade eram suas próprias dúvidas.

Os curtas eram dissertações que cada um encontrou para narrar um discurso cheio dessas dúvidas. Pude perceber que nenhum dos fazedores entrou no filme com a visão exata do seu resultado, porém com muita convicção e vontade para que esse resultado abrisse possibilidades acerca dos sentimentos e experiências de seus personagens.

O dia 26 está na metade e aguardo mais chuva. Chuva de dúvidas e incertezas.
Isso é muito emocionante.


filmes vistos do dia 25:

Bem-Vindo Guilherme
Direção: Dellani Lima & Rodrigo Lacerda, Jr

Perto de Casa
Direção: Sérgio Borges

sweet karolynne
Direção: Ana Bárbara Ramos

O Divino, De Repente
Direção: Fábio Yamaji

Guilherme de Brito
Direção: André Sampaio

As Corujas
Direção: Fred Benevides

98001075056
Direção: Felipe Barros

Fantasmas
Direção: André Novais Oliveira

MATRYOSHKA
Direção: SALOMÃO SANTANA

24º Domingo do Tempo Comum
Direção: daniel lentini

cadernos de viagem
Direção: Alex Lindolfo

Chapa
Direção: Thiago Ricarte

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