25 abril 2014

Zoravan

Naquele dia de inverno, o seu banho seria gelado.

O velho chuveiro não conseguia esquentar a água e ela decidiu não postergar o banho pois considerava que o odor do seu corpo trazia algo como agridoce.

Lembrou que esse era o mesmo odor de Netuno, um velho barqueiro que navegava em águas cristalinas de cor esmeralda junto com seu fiel escudeiro, que era um turista empolgado que usava sunga cor lilás.

A primeira e única vez que ela os viu foi quando estava desfrutando uma tarde quente numa praia longe de tudo, bronzeava-se e bebia um coquetel que tinha o cheiro de perfume barato, mas era essencialmente refrescante.

Netuno atracou nessa praia, e assim que desceram do barco, o fiel escudeiro de sunga lilás veio na sua direção e mirava fixamente nas suas pernas, o que a deixou incomodada. Ao se aproximar ele perguntou se ela gostaria de fazer uma viagem com Netuno. A resposta foi seca e imediata: "Não!"

Sem se intimidar, o escudeiro se afastou e rebolando ao som da música que vinha do bar, ele se dirigiu ao balcão para pedir uma cerveja. Logo depois ela percebeu que o próprio Netuno estava sentado ao seu lado.

O velho homem de cabelos e barba cinzas, com pele escura e olhos vivos, pousou sua mão sobre a coxa dela. Era um toque morno e ela sentiu um equilíbrio interior que até hoje ela não sabe explicar. Em seguida Netuno lhe disse:

-Minhas viagens são errantes e se perdem no tempo.

E ali os dois ficaram em silêncio até o sol sumir no mar. Netuno e seu escudeiro embarcaram e sumiram no horizonte assim como a luz daquele dia.

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