18 maio 2013

A surdez de nossos semelhantes

Sua amiga telefonou e informou que o atraso seria de trinta minutos. Estava muito calor e ela atravessou a rua, onde um pequeno restaurante de comida caseira saciaria a sua fome. Mas era a dor em seu ombro direito que precisava passar, até aquele momento nenhum relaxante muscular nem remédio para dor conseguira aliviá-la. Merda! ela pensou, seus 28 anos de idade pareciam ser os últimos de sua vida.

O frango grelhado com arroz e feijão veio bem saboroso. A salada era pobre, mas o tomate era incrivelmente vermelho. Na mesa à sua frente duas amigas com uniforme de administrativo de hospital conversavam euforicamente. Ao ouvir essa conversa com mais atenção, ela percebeu que pareciam falar de pousadas ou hospedagens, pensou que se tratava de alguma viagem, mas à medida que raspava o prato de comida caseira foi percebendo algo mais cruel.

As duas mulheres, ambas na faixa dos 40 anos, debatiam sobre lar de idosos, nitidamente para hospedar o parente de uma delas. O suor nas axilas pareciam mais úmidos e a dor no ombro estalava. Inconformada com a frieza com que as mulheres ao seu lado conversavam sobre o assunto, ela as chamou e ao se virarem perguntou:

- Desculpe a intromissão, mas em algum momento vocês se colocaram no lugar desta senhora?

Um silêncio estranho flutuou entre as três mulheres, e a resposta veio seca:

- Este assunto não é da sua conta.

As amigas se levantaram apressadamente, dirigiram-se ao caixa e sumiram na rua.

Ao menos a dor do estômago estava aliviada, mas a dor no ombro se encontrava agora acompanhada da dor da indiferença. Desejou ser surda ou ao menos mais indiferente a tudo ao seu redor. Sua amiga chegou mais atrasada do que havia prometido e foram às compras.  

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