Ela corria como ninguém. Ela era imbatível com os seus vinte e sete anos. Além do treino constante, suas pernas eram movidas por paixão. A velocidade nos seus passos representava uma conquista diária. Não podia haver limites, uma superação deveria vir após a outra.
Até que um dia seus olhos acordaram vendados, era um tecido macio e com um perfume agradável. Logo em seguida percebeu que suas pernas estavam amarradas à cama. Sentou e tentou desatar o nó da venda, não conseguiu. Reuniu todas as forças de suas mãos e não obteve nenhum sucesso. O mundo estava às escuras.
Suas pernas também.
Gritou o grito mais doloroso de sua vida. Gritou por ajuda e por desespero. Nenhuma resposta. Lágrimas e um choro de dor tomaram conta de seu rosto e umedeceu o pano perfumado.
Deitou novamente e fechou os olhos. Percebeu que o mundo era o mesmo. Escuridão e medo.
Quis adormecer e não conseguiu. Pensou que talvez um sonho pudesse lhe consolar. Lembrou de um sonho que teve há dois anos, em que a lua cheia iluminava várias pessoas correndo, mas aos poucos elas iam desaparecendo, restando-lhe uma amiga e um homem que ela jamais havia visto. Quando o homem parou de correr tudo se iluminou e um branco tomou conta de seus olhos. Desde então acreditou que aquele homem pudesse existir de verdade e que talvez fosse bom encontrá-lo.
Muitas horas se passaram e as forças se esgotaram por completo tentando arrancar a venda nos olhos e as amarras de suas pernas. Ela nunca havia esperado tanto sem poder agir. Buscou algo que distraísse seus pensamentos. Encontrava apenas uma confusão de ideias.
2 comentários:
Nossa que história mais angustiante!!! A vontade de viver sendo coaptada por algo que a pessoa nem sabe o que é, e que nem consegue lutar contra!!! Meio apavorante né? Só melhor, é mesmo a não desistência de viver intensamente! Gostei... beijão
Olá Amanda, sim, tem um tom apavorante, inexplicável, mas as forças não acabam nunca e seguimos correndo e como falaste, sem desistir de viver intensamente. beijo grande
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