20 fevereiro 2008

Coletor e cobrador

Av. Paulista, manhã.
O ônibus pára no sinal. Eu estou sentado dentro desse ônibus, dois bancos para trás do cobrador.
Ao lado do ônibus está um caminhão de lixo.
O cobrador lê um jornal (que parece ser um daqueles distribuídos no metrô).
O coletor de lixo, pendurado na traseira do caminhão ao lado, se aproxima da janela do ônibus e fala ao cobrador:
- Que emprego bom esse hein!
O cobrador responde algo meio desconcertado. O coletor continua:
- Sai de casa e fala pra mulher que vai trabalhar e passa o dia passeando de ônibus.
O coletor solta uma risada. Um outro coletor, pele bem clara, olhos pequenos e pendurado na outra barra de ferro da traseira do caminhão, também sorri.
O cobrador ri e novamente responde algo meio desconcertado.
O coletor então diz que sabe que o trabalho do cobrador parece fácil, mas tem hora que a coisa aperta, fica difícil, com muita tensão. Em seguida forma na sua mão um revólver com os dedos. Na seuqencia ele completa:
- Deus é maior!
O cobrador responde que o trabalho do coletor também parece difícil. O coletor confirma dizendo que é bom por passear também, mas o cheiro, andar pendurado, risco de tontura na cabeça, e muitas outras coisas fazem o serviço mais duro, mas "Deus é maior".
O sinal abre.
Os dois trabalhadores se despedem, risos em seus rostos.
O ônibus vai mais rápido que o caminhão de lixo.
Penso: e o motrista do caminhão, como será?
Espero passar pela janela e quando vejo, lá está ele, um homem de meia idade manipulando um jornal (que parece ser um daqueles distribuídos no metrô) e o voltante de seu caminhão.

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