20 julho 2013

Compreender o que é a Militancia no Século XXI



O companheiro Mário novamente nos lançou uma colaboração importante para reflexão nesses dias que vivemos, o seu texto “Quemtem medo do novo” traz elementos que podem fincar certas bases para aprimorarmos o pensamento. Iniciarei com um desabafo que pode me custar muitas críticas, mas prefiro, nesse momento, ser bem sincero.

Não sou entusiasta das manifestações. Também não condeno a ida às ruas. Melhor transporte público, melhor saúde, melhor educação, menos privatizações, também é ÓBVIO que sou a favor dessas reinvindicações. E me diga, quem não é? Ah, os governantes corruptos, os capitalistas de direita, os grandes grupos de comunicação, sim, sim e sim. Pois bem, vivemos mesmo uma luta ideologicamente dialética?

Falta-me entusiasmo por uma simples falta de identificação, apesar de que OBVIAMENTE me identifico com as reinvindicações. O motivo também não é o “medo do novo”, quem me conhece mais de perto sabe o quanto sou muito ligado à juventude, principalmente na área cultural. Inclusive, enquanto muitos criticam as novas gerações, eu apoio e as compreendo, enxergo que a tecnologia e o seu pensamento menos estanque em conceitos predefinidos leva essa juventude a ser mais incisiva em suas colocações.

A falta de identificação vem porque acredito que estamos num processo lento, repito: LENTO de transformações profundas nesse país. Lutei muito para que 2002 fosse um ano realmente de virada histórica para o Brasil, e foi! E minha luta não estava baseada em ideais perfeitos, cheios de éticas inabaláveis ou romanticamente revolucionários, estava baseada no sentimento de que precisávamos começar a transformação. Já disse diversas vezes: a minha admiração pelo Lula não vem porque ele salvou esse país, ele apenas começou o processo, nada está salvo e precisamos compreender que continuamos sendo um país pobre!

Além de pobre temos dois canceres: corrupção e cultural neoliberal. Ambos estão fincados culturalmente, ou melhor, ideologicamente, nos cidadãos. Fala-se em corrupção dos governantes, mas no seio da população todos nós alimentamos o caixa dois de redes capitalistas, de traficantes de maconha (sou a favor da legalização), de mafiosos da pirataria e buscamos sonegar impostos quando podemos. A cultura neoliberal do estado mínimo está no constante discurso de que o Estado e a política atrapalham o cotidiano, aí surgem os discursos que não tem investimento pra educação, saúde, bla bla bla.

Além dos cânceres corrupção e cultura neoliberal, precisamos frear o monstro consumista, a cultura do ter e somente ter. A economia brasileira se fortaleceu nos últimos dez anos e nos levou a comprar mais e alargar os mercados internacionais de atuação do país, porém culturalmente pouco avançamos, e os conceitos de cidadania, de bens públicos e de coletividade se perdem cada vez mais. Se o capitalismo está em crise, o seu legado tem sido o individualismo cada vez mais agressivo.

Como muitos compreendem a justiça nos dias de hoje? Compreendem que se eu tenho algo, ninguém tem o direito de tirar de mim. Eu, particularmente, compreendo justiça como ninguém ter a necessidade de ter que tirar algo de alguém. É óbvio que jamais teremos uma sociedade 100% livre de assaltos ou roubos, mas a justiça precisa estar direcionada às causas das desigualdades sociais, que hoje é gerada pela cultura consumista.

Daí vem a minha única divergência ao texto do companheiro Mário, não considero que “uma consciência nova, anticapitalista” está se formando. Enxergo exatamente o contrário, é justamente a consciência capitalista do consumo, do real conhecimento das relações produto-consumidor, que está gerando insatisfação generalizada. Os cidadãos desejam consumir com qualidade. Não está em debate como construir um Estado forte e capaz de dar conta do nosso crescimento e demandas políticas e sociais, está em debate apenas a crítica, a insatisfação consumista. E pior: como se as nossas carências não fossem históricas.

Sugiro a leitura do seguinte artigo escrito por Wolfgang Streeck publicado na edição 79 da revista Piauí: clique aqui.

Volto a dar as mãos ao Mário na sua reflexão do papel de um partido comunista. Sim, um verdadeiro partido comunista deve ser o responsável em fertilizar o NOVO. Esse NOVO não está integralmente nas manifestações recentes, está apenas em parte, e precisamos compreender melhor o que é o NOVO no momento em que o país se encontra, no momento em que um processo de transformações está em curso, longe de estar consolidado e que está sendo duramente atacado e minado pelos mais diversos setores da sociedade, incluindo aí não as manifestações em si, mas suas nocivas reverberações.

Ao escrever a frase “parece que sua experiência [do PC do B] não foi suficiente para entender seu papel” no projeto de reformas do governo do PT nos últimos dez anos, Mário traz uma observação rica e concisamente importante. Não entrarei na questão que o Mário comentou sobre a opção pela socialdemocracia do partido, mas apenas observarei que a fertilização do novo não surge em função da não compreensão de uma participação histórica e que atualmente se faz necessária pela nítida falta de uma força à esquerda da própria esquerda no país.

“Sem o vigor e a virilidade de outrora”: novamente Mário nos coloca uma impotência de nosso partido, este que deveria estar à frente dessa força à esquerda que precisamos. Como eu disse acima, vivemos um momento de transformações que sim, como nunca antes na história desse país, são progressistas e que precisam se manter para que avancemos principalmente em soberania. As ruas mostraram que há insatisfação para avançarmos mais e mais rapidamente, só que defendo o pensamento de que o processo é lento e que a necessidade urgente é o empurrão à esquerda.

Esse movimento precisa se dar com a fortificação do nosso partido, historicamente compromissado com essa ação. E o movimento é renovar suas fileiras, compreender detidamente o que significa uma militância no século XXI, compreender mais de perto a comunicação mais adequada com os trabalhadores e mais, com os microempresários, pequenos produtores agrícolas, trabalhadores informais e os autônomos. Precisamos ir além dos sindicatos, centros acadêmicos, grêmios estudantis e lideranças comunitárias. Precisamos compreender que a nossa comunicação deve estar relacionada com as tecnologias, os debates virtuais e a multiplicidade de opiniões.

Reforço que o papel do partido precisa estar fortificado na sua comunicação, que é por onde passa o trem da História atualmente, e que segundo o companheiro Mário, parece que estamos perdendo, concluo que ainda não, até mesmo porque hoje a analogia mais adequada para o transporte da História é o avião, cuja decolagem precisa obviamente de um piloto, apenas precisamos do brevê e assumir a cabine antes da decolagem, assumir como verdadeiros militantes!

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