11 novembro 2012

Kaliningrado

Na calçada ela encontrou uma pequena carteira vermelha, olhou para os lados e pegou o acessório em movimentos bem rápidos. Soraia resolveu abrir a carteira. Estava vazia.

A mãe de Soraia morava num apartamento bem charmoso, poucos móveis e bem decorado. Ao receber da filha a carteira vermelha encontrada na rua, a reação da mulher de 50 anos foi dizer que não havia espaço nem pra moedas e que não conseguia ver uma utilidade para um objeto como aquele. Soraia tentou convencê-la a ficar com a carteira e o que se sucedeu foi uma interminável discussão entre mãe e filha.

Naquela noite Soraia foi a um clube noturno e dançou muito.

Tudo que Soraia, mística e esotérica, compreendia era que aquela carteira naquela calçada teve a cósmica função de agravar o seu conturbado relacionamento com a sua genitora. Soraia sentia revolta. Soraia teve um plano.

“Ao encontrar essa carteira, por favor me escreva dizendo o que aconteceu com você no dia seguinte, bjs Lua escrevapralua@gmail.com”. Foi esse o bilhete que ela deixou no interior da carteira antes de abandoná-la num centro comercial.

Seis dias depois ela recebeu a seguinte mensagem:

“Oi Lua,

Não aconteceu nada!

Bjs

Sol”.

Além da frustração com a lacônica resposta, Soraia nadou na dúvida se Sol era do sexo masculino ou feminino. Prudentemente, resolveu não responder ao email para sanar sua dúvida.

Sim, Soraia possuía perguntas sem respostas e precisava aprender a conviver com isso.

Soraia esqueceu da carteira vermelha e recentemente visitou a sua mãe. Brigaram novamente por causa de uma prima que fuma maconha.

2 comentários:

Paloma disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paloma disse...

Senti pena da Soraya, acreditou muito em seu próprio misticismo e caiu na armadilha da expectativa. Também me frustrei, esperei uma resposta mais romantizada ao bilhete rs.

Mas a vida é assim né, muitas vezes é isso (mas só isso?!)

Daria um bom curta
bjs

Será que 'Sol' seria sua metade da laranja?